Quando o Galo Canta
- espacoohanaom
- 27 de mar.
- 2 min de leitura

Joguei a corda para tocar o fundo do poço. Em vão.
A profundidade era maior do que imaginei.
Passava meus dias remendando pedaços de corda para chegar ao fundo. Enquanto realizava esta tarefa, observava o galo passar no quintal vizinho.
Semanas e remendos se passaram. O galo resolveu pular a cerca e veio ao meu encontro.
Comecei a me sentir desconfortável. Ele me olhava e eu continuava os remendos sem ter sucesso em chegar ao fim do poço.
Belo dia o galo cantou sem parar em frente minha janela.
Desta vez fui até ele. Que inoportuno! Ele não parava.
Ao lado do poço ele estava. Aproveitei, me inclinei. Frente ao galo, frente ao poço.
Pulei...
...
...
...
Como eu poderia estar despida frente a aurora de minha vida, anunciada pelo cantar matutino daquele ser solar, se ainda minhas águas, rasas, paradas, habitavam um poço abandonado por mim mesma?
Quando aquele galo tocou as trombetas do céu disfarçadas por seus pulmões, relutei em despertar.
O sono profundo do poço sem virtude... qual serventia? Água límpida, que mata a sede, que mina dos lençóis... uma riqueza obstruída e impura por minhas desatenções...
Voltei...
...
...
...
O galo me olhou. Parou o canto e descansou.
Meu corpo, queimado pelo sol, erguido pela energia da vontade... após negar meus desejos...desejou profundamente cavar poços pelo quintal e inundar o mundo da água mais pura, sagrada e benta, pelo mais sagrada benzedora: a Vida.
Em outro momento? Destruiria o poço.
Saída fácil.
Hoje... não sei...
O conforto. Deito na rede do não saber.
Deixe cantar.
Todo fluir deságua no mar.
Se torto foi, é que não seguiu a cadência divina da fluência, do verdadeiro se entregar.
🟡🟡🟡
"Galo cantou, tá chegando a hora...Oxalá está me chamando, caçador não vá embora" 🎵🎶






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